24.9.06
A Novidade do «Sol»
Este sábado, já pude apreciar a novidade jornalística que José António Saraiva nos havia prometido no seu novel semanário, o Sol.
Devo confessar ab initio que não partilho de uma opinião muito difundida entre a nossa putativa intelectualidade, mormente a dita de Esquerda, termo cada vez menos útil ou adequado para classificar famílias ou atitudes políticas, que costuma menorizá-lo como analista político, que o é, mais do que muitos outros seus pretendidos émulos e há bem mais tempo.
Leio-o há muito e prezo bastante as suas opiniões, com as quais muitas vezes concordei e concordo.
Vejo nele, na sua maneira de observar a Política, algumas características herdadas da grande argúcia intelectiva do pai, o saudoso António José Saraiva, aqui já várias vezes citado e elogiado, como inteiramente o merece.
Mas, como sucede com qualquer mortal ninguém está isento de crítica e muitas vezes, por desconhecermos as circunstãncias em que os factos ocorrem, podemos também julgar mal os seus autores. No entanto, sempre temos de exercer esse dever cívico indeclinável que é o da análise crítica do mundo que nos rodeia. E este é o que é.
No caso presente o Sol, neste seu 2º número, saldou-se, quanto a mim, por rotundo fracasso, decepcionando aqueles que, porventura, ambicionavam uma versão melhorada do Expresso, como JAS havia insistentemente insinuado.
Já há bastante tempo que o Expresso dá visíveis sinais de esgotamento, de queda ou cedência à banalidade informativa. Poderão alguns cínicos argumentar que tal se torna inevitável, dada a tendência para a formação de uma mentalidade baseda no culto da banalidade, presente numa larga faixa da sociedade actual, que os jornais acabariam, depois, por seguir. Isto é capaz de ser verdade.
Contudo, os jornais, os semanários, sobretudo, devem ir um pouco à frente da multidão, das massas, das maiorias, procurando espevitá-las, dar-lhes mais elementos de reflexão, para a formação da chamada opinião pública, que não devemos confundir com a que se vê publicada. Sabe-se lá por que artes e manhas, muitas vezes, ela aparece. Uma comprida, por de mais benevolente e oportuna mão amiga estará com frequência na sua origem.
Com pode um semanário como o Sol pretender ultrapassar o Expresso apenas com artigos de completas trivialidades, com protagonistas da moda social, da gente que aparece, para fazer o que supostamente acontece, que nada tem a dizer ao país, que, por regra, confunde com o seu grupo restrito de amigos e semelhantes, no gosto e no pensamento ?
Toda a banalidade está lá patente, desde o tamanho da letra, ao espaço dado à imagem, ao comprimento do texto noticioso que notoriamente minguou, à atenção preferencial ao anedótico, ao acessório, ao ligeiro ou light, no português airado da Comunicação Social, tudo compondo um chorrilho de inocuidades, talvez brilhantes ou sonoras, mas vazias de sentido.
Na sua primeira página, surde, porém, uma velha matreirice de JAS. Refiro-me àquela dita sondagem, que dá como um quarto dos portugueses desejando ser espanhóis, que depois, passa a 28%, outras a 27,7%, etc., logo deixando adivinhar a credibilidade que nos deve merecer tanto respeito pelo rigor estatístico.
Já há alguns anos, JAS tinha feito a mesma brincadeira no Expresso, quando nos chamava a 7ª ou 8ª região espanhola, com nítido propósito provocatório, como posteriormente confessou, dizendo que havia escrito a sua crónica para chocar a consciência aparentemente adormecida dos portugueses.
Na altura, muita gente, entre a qual me incluo, lhe respondeu, numa pequena demonstração de que, nem sempre, a respeito de determinados absurdos, se deve tomar o silêncio ou ausência de ruído por comungado assentimento.
Volta agora, JAS, a repetir a blague, numa imaginada comprovação estatística de uma nova realidade mental dos portugueses, que, de tão descrentes da Europa e do próprio País, já aceitariam uma integração em Espanha.
O assunto merece mais do que uma breve referência, mas não convém tomar a notícia do Sol por aquilo que ela não é, antes se deve denunciar a perigosa,nefasta gracinha, urdida com propósitos meramente publicitários. Com esta suposta notícia, o Sol usou aqui um forte chamariz, provavelmente para compensar a vacuidade geral do restante conteúdo do jornal.
Esperava-se mais de JAS e, a continuar neste rumo, jamais preencherá o lugar do Expresso, podendo até igualá-lo ou mesmo superá-lo nas elevadas tiragens, feito que a revista Maria já há muito alcançou, mas denegará os propósitos por si mesmo enunciados e, pior do que isso, desfigurará a sua reputação no seio do jornalismo de referência, que, na verdade, já conheceu melhores dias.
Ou será que JAS se rendeu a argumentos mais fortes impostos pelos patrocinadores do seu projecto jornalístico ?
AV_Lisboa, 24 de Setembro de 2006
Devo confessar ab initio que não partilho de uma opinião muito difundida entre a nossa putativa intelectualidade, mormente a dita de Esquerda, termo cada vez menos útil ou adequado para classificar famílias ou atitudes políticas, que costuma menorizá-lo como analista político, que o é, mais do que muitos outros seus pretendidos émulos e há bem mais tempo.
Leio-o há muito e prezo bastante as suas opiniões, com as quais muitas vezes concordei e concordo.
Vejo nele, na sua maneira de observar a Política, algumas características herdadas da grande argúcia intelectiva do pai, o saudoso António José Saraiva, aqui já várias vezes citado e elogiado, como inteiramente o merece.
Mas, como sucede com qualquer mortal ninguém está isento de crítica e muitas vezes, por desconhecermos as circunstãncias em que os factos ocorrem, podemos também julgar mal os seus autores. No entanto, sempre temos de exercer esse dever cívico indeclinável que é o da análise crítica do mundo que nos rodeia. E este é o que é.
No caso presente o Sol, neste seu 2º número, saldou-se, quanto a mim, por rotundo fracasso, decepcionando aqueles que, porventura, ambicionavam uma versão melhorada do Expresso, como JAS havia insistentemente insinuado.
Já há bastante tempo que o Expresso dá visíveis sinais de esgotamento, de queda ou cedência à banalidade informativa. Poderão alguns cínicos argumentar que tal se torna inevitável, dada a tendência para a formação de uma mentalidade baseda no culto da banalidade, presente numa larga faixa da sociedade actual, que os jornais acabariam, depois, por seguir. Isto é capaz de ser verdade.
Contudo, os jornais, os semanários, sobretudo, devem ir um pouco à frente da multidão, das massas, das maiorias, procurando espevitá-las, dar-lhes mais elementos de reflexão, para a formação da chamada opinião pública, que não devemos confundir com a que se vê publicada. Sabe-se lá por que artes e manhas, muitas vezes, ela aparece. Uma comprida, por de mais benevolente e oportuna mão amiga estará com frequência na sua origem.
Com pode um semanário como o Sol pretender ultrapassar o Expresso apenas com artigos de completas trivialidades, com protagonistas da moda social, da gente que aparece, para fazer o que supostamente acontece, que nada tem a dizer ao país, que, por regra, confunde com o seu grupo restrito de amigos e semelhantes, no gosto e no pensamento ?
Toda a banalidade está lá patente, desde o tamanho da letra, ao espaço dado à imagem, ao comprimento do texto noticioso que notoriamente minguou, à atenção preferencial ao anedótico, ao acessório, ao ligeiro ou light, no português airado da Comunicação Social, tudo compondo um chorrilho de inocuidades, talvez brilhantes ou sonoras, mas vazias de sentido.
Na sua primeira página, surde, porém, uma velha matreirice de JAS. Refiro-me àquela dita sondagem, que dá como um quarto dos portugueses desejando ser espanhóis, que depois, passa a 28%, outras a 27,7%, etc., logo deixando adivinhar a credibilidade que nos deve merecer tanto respeito pelo rigor estatístico.
Já há alguns anos, JAS tinha feito a mesma brincadeira no Expresso, quando nos chamava a 7ª ou 8ª região espanhola, com nítido propósito provocatório, como posteriormente confessou, dizendo que havia escrito a sua crónica para chocar a consciência aparentemente adormecida dos portugueses.
Na altura, muita gente, entre a qual me incluo, lhe respondeu, numa pequena demonstração de que, nem sempre, a respeito de determinados absurdos, se deve tomar o silêncio ou ausência de ruído por comungado assentimento.
Volta agora, JAS, a repetir a blague, numa imaginada comprovação estatística de uma nova realidade mental dos portugueses, que, de tão descrentes da Europa e do próprio País, já aceitariam uma integração em Espanha.
O assunto merece mais do que uma breve referência, mas não convém tomar a notícia do Sol por aquilo que ela não é, antes se deve denunciar a perigosa,nefasta gracinha, urdida com propósitos meramente publicitários. Com esta suposta notícia, o Sol usou aqui um forte chamariz, provavelmente para compensar a vacuidade geral do restante conteúdo do jornal.
Esperava-se mais de JAS e, a continuar neste rumo, jamais preencherá o lugar do Expresso, podendo até igualá-lo ou mesmo superá-lo nas elevadas tiragens, feito que a revista Maria já há muito alcançou, mas denegará os propósitos por si mesmo enunciados e, pior do que isso, desfigurará a sua reputação no seio do jornalismo de referência, que, na verdade, já conheceu melhores dias.
Ou será que JAS se rendeu a argumentos mais fortes impostos pelos patrocinadores do seu projecto jornalístico ?
AV_Lisboa, 24 de Setembro de 2006
17.9.06
O Diálogo Difícil
Ouvi, hoje, com alguma perplexidade, as palavras do Papa Bento XVI, na oração do Angelus, ao ensaiar uma delicada operação de apaziguamento de mais uma onda de fúria islâmica, que se prepara ou preparava, de novo, para incendiar e vandalizar símbolos de países ocidentais de cultura maioritariamente judaico-cristã.
Esta nova ira do Islão desatada, alegadamente, pelas referências do Papa ao Profeta Mafoma – termo preferível a Maomé – consideradas desrespeitosas, acusação de resto habitual, proferida contra alguém que não se disponha exclusivamente a tecer-lhe encómios, deveria, mais uma vez, obrigar-nos a uma reflexão sobre o modo como haveremos de estabelecer relações de entendimento, desejavelmente de amizade, com o Islão hodierno, aqui na Europa e lá onde ele, absoluto, domina.
Com todo o respeito, que mantenho, em relação à categoria mental de Bento XVI e às suas anteriores posições de firmeza em pontos importantes da Doutrina Católica, independentemente de os perfilhar ou não, julgo que, com esta, certamente aconselhada, tentativa de suavização do seu pensamento, vai num sentido dúbio e perigoso.
Compreendo que, como Chefe Político dos Católicos tenha preocupações diversas das que tinha antes, quando era apenas guardião da Fé. O mundo político impõe subtilezas de trato, de compromisso e de conveniência que o ambiente eminentemente intelectual facilmente dispensa, por irrelevantes.
Pensará Bento XVI apaziguar a ira muçulmana com cedências veladas, com aquele seu tom sereno, cordato, melífluo mesmo, mas saberá, certamente, o prudente e experimentado Ratzinger que tudo isso são coisas que os seus exaltados interlocutores já demonstraram não apreciar, por aí além, querendo antes, em seu lugar, a subjugação plena e inequívoca dos católicos, ante os seus mais que evidentes sinais de crescente proselitismo, na Europa particularmente ruidosos.
O Islão percebeu que a Europa é bastante vulnerável à sua investida. Presa de antigos complexos do seu passado de expansão e colonização de outros continentes, macerada durante longos anos pela crítica marxista de subordinação soviética, ficou, mesmo depois de extinto esse mundo de certezas representado no Comunismo Soviético, como que paralisada, continuamente vacilante, insegura da sua razão e do seu caminho.
Mesmo senhora de uma confortável riqueza material e de um elevado domínio científico, tecnológico e cultural, a Europa manifesta-se permanentemente hesitante em afirmar os seus valores, justamente aquilo que proprcionou a actual situação de vantagem.
Como já todos vimos, no passado e no presente, começa logo a perder, aquele que desiste de lutar.
Veremos se estes filhos de Alá nos conseguem condicionar o pensamento, aqui, na bela e liberal Europa, com séculos de laicismo vitorioso e impante.
Os ventos podem, naturalmente, mudar, porque nada há de mais incerto do que a História, como temos largamente comprovado nestas últimas décadas. Nem os mais pintados especialistas dos altos círculos intelectuais americanos, reunidos nos chamados «tanques ou viveiros de pensamento, grupos de reflexão», Think Tanks, Recruited Experts for Special Task Forces, poderíamos dizer em português moderno, sumamente mediático, nem os frios e conspícuos britânicos de Oxford e de Cambridge, onde, de resto, nasceram traidores e toupeiras, como cogumelos, durante a Guerra-Fria, nem a refinada intelectualidade parisiense, etc., etc., jamais conseguiram acertar com as perspectivas evolutivas deste nosso complexo mundo, rebelde a vaticínios, ainda que saídos das bocas douradas de incensados intelectuais, que logo encontram, pelo vasto planeta, um coro de acólitos de menor brilho, mas de igual zelo doutrinário ! Recordemo-nos, pois, destes factos !
É decerto, vantajoso que procuremos perscrutar o futuro de uma forma racional, tentando, primeiro, compreender o passado, para perceber o presente e, daí, perspectivar o futuro. Todavia, sem pretensões de termos achado uma fórmula lógica, infalível e inevitável, como no-lo tentavam impingir os revolucionários de todos os matizes.
Quantas vezes não ouvimos falar dessa insuperável doutrina do nosso tempo, o Marxismo, com o seu imbatível Materialismo Dialéctico aplicado à História, essa garantida espécie de ciência para toda a explicação da história humana !
Quantas teses, por esse mundo pretendidamente fino, douto e elegante, das Universidades Europeias e Americanas não se forjaram neste convencimento, com o assentimento quase geral da imensa Comunidade Científica desses meios, por excelência votados ao estudo e à reflexão !
Haja, por isso, cautelas quanto a profecias, místicas ou científicas, sobre o futuro político da Humanidade.
Uma coisa, porém, parece irrefutável : doutrina, filosofia, civilização ou cultura que não se defenda, não prevalecerá.
Terão os Europeus vontade de se bater por alguma coisa que não seja imediatamente convertível no encantatório metal ?
Eis a questão a que sempre retornamos nesta reflexão, hoje mais obrigatória que nunca.
AV_Lisboa, 17 de Setembro de 2006
Esta nova ira do Islão desatada, alegadamente, pelas referências do Papa ao Profeta Mafoma – termo preferível a Maomé – consideradas desrespeitosas, acusação de resto habitual, proferida contra alguém que não se disponha exclusivamente a tecer-lhe encómios, deveria, mais uma vez, obrigar-nos a uma reflexão sobre o modo como haveremos de estabelecer relações de entendimento, desejavelmente de amizade, com o Islão hodierno, aqui na Europa e lá onde ele, absoluto, domina.
Com todo o respeito, que mantenho, em relação à categoria mental de Bento XVI e às suas anteriores posições de firmeza em pontos importantes da Doutrina Católica, independentemente de os perfilhar ou não, julgo que, com esta, certamente aconselhada, tentativa de suavização do seu pensamento, vai num sentido dúbio e perigoso.
Compreendo que, como Chefe Político dos Católicos tenha preocupações diversas das que tinha antes, quando era apenas guardião da Fé. O mundo político impõe subtilezas de trato, de compromisso e de conveniência que o ambiente eminentemente intelectual facilmente dispensa, por irrelevantes.
Pensará Bento XVI apaziguar a ira muçulmana com cedências veladas, com aquele seu tom sereno, cordato, melífluo mesmo, mas saberá, certamente, o prudente e experimentado Ratzinger que tudo isso são coisas que os seus exaltados interlocutores já demonstraram não apreciar, por aí além, querendo antes, em seu lugar, a subjugação plena e inequívoca dos católicos, ante os seus mais que evidentes sinais de crescente proselitismo, na Europa particularmente ruidosos.
O Islão percebeu que a Europa é bastante vulnerável à sua investida. Presa de antigos complexos do seu passado de expansão e colonização de outros continentes, macerada durante longos anos pela crítica marxista de subordinação soviética, ficou, mesmo depois de extinto esse mundo de certezas representado no Comunismo Soviético, como que paralisada, continuamente vacilante, insegura da sua razão e do seu caminho.
Mesmo senhora de uma confortável riqueza material e de um elevado domínio científico, tecnológico e cultural, a Europa manifesta-se permanentemente hesitante em afirmar os seus valores, justamente aquilo que proprcionou a actual situação de vantagem.
Como já todos vimos, no passado e no presente, começa logo a perder, aquele que desiste de lutar.
Veremos se estes filhos de Alá nos conseguem condicionar o pensamento, aqui, na bela e liberal Europa, com séculos de laicismo vitorioso e impante.
Os ventos podem, naturalmente, mudar, porque nada há de mais incerto do que a História, como temos largamente comprovado nestas últimas décadas. Nem os mais pintados especialistas dos altos círculos intelectuais americanos, reunidos nos chamados «tanques ou viveiros de pensamento, grupos de reflexão», Think Tanks, Recruited Experts for Special Task Forces, poderíamos dizer em português moderno, sumamente mediático, nem os frios e conspícuos britânicos de Oxford e de Cambridge, onde, de resto, nasceram traidores e toupeiras, como cogumelos, durante a Guerra-Fria, nem a refinada intelectualidade parisiense, etc., etc., jamais conseguiram acertar com as perspectivas evolutivas deste nosso complexo mundo, rebelde a vaticínios, ainda que saídos das bocas douradas de incensados intelectuais, que logo encontram, pelo vasto planeta, um coro de acólitos de menor brilho, mas de igual zelo doutrinário ! Recordemo-nos, pois, destes factos !
É decerto, vantajoso que procuremos perscrutar o futuro de uma forma racional, tentando, primeiro, compreender o passado, para perceber o presente e, daí, perspectivar o futuro. Todavia, sem pretensões de termos achado uma fórmula lógica, infalível e inevitável, como no-lo tentavam impingir os revolucionários de todos os matizes.
Quantas vezes não ouvimos falar dessa insuperável doutrina do nosso tempo, o Marxismo, com o seu imbatível Materialismo Dialéctico aplicado à História, essa garantida espécie de ciência para toda a explicação da história humana !
Quantas teses, por esse mundo pretendidamente fino, douto e elegante, das Universidades Europeias e Americanas não se forjaram neste convencimento, com o assentimento quase geral da imensa Comunidade Científica desses meios, por excelência votados ao estudo e à reflexão !
Haja, por isso, cautelas quanto a profecias, místicas ou científicas, sobre o futuro político da Humanidade.
Uma coisa, porém, parece irrefutável : doutrina, filosofia, civilização ou cultura que não se defenda, não prevalecerá.
Terão os Europeus vontade de se bater por alguma coisa que não seja imediatamente convertível no encantatório metal ?
Eis a questão a que sempre retornamos nesta reflexão, hoje mais obrigatória que nunca.
AV_Lisboa, 17 de Setembro de 2006
13.9.06
O Terrorismo Moderno - Sua Percepção no Ocidente
Tivemos, ontem, no debate da TV, no programa «Prós e Contras» da RTP1, a oportunidade de apreciar a confrontação de dois modos de encarar, no Ocidente, o problema do terrorismo moderno de inspiração religiosa islâmica e o seu necessário combate.
De um lado, digamos, pró-americano, representado por José Pacheco Pereira, observámos a percepção mais objectiva do fenómeno, que toma o terrorismo islâmico na sua correcta dimensão, entendendo-o como ameaça global ao nosso modo de viver ocidental.
Do outro, atribuído, por assim dizer, a Mário Soares, ali reencontrado na sua versão outra vez juvenil, deparou-se-nos a visão do problema, na óptica anti-americana, anti-globalização, anti-imperialista, um pouco socialista, não muito, claro, apenas q.b., naquele grau compatível com o discreto charme da burguesia, de piedosos sentimentos, mas de práticas sociais inconsequentes, como era uso dizer-se, num antigo dialecto político muito do agrado de velhos confrades e amigos de Soares.
Para o primeiro, JPP, sem querer admitir a existência de um choque de civilizações, ainda assim, denominando-o de cultural, o problema é sério e como tal deve ser encarado, sem cedências despropositadas, que possam ser mal entendidas. Por isso mesmo, estima e apoia o esforço americano no actual conflito, apesar dos erros cometidos quanto ao modus operandi gizado por Bush e seus conselheiros.
Já para Mário Soares, tudo o que presentemente vem dos EUA lhe parece de rejeitar, incluindo a firmeza com que estes pretendem lutar contra o terrorismo. E logo desata um rol de desacertos, de erros estratégicos e tácticos, de actuação, etc., a que acrescenta a total falta de credibilidade intelectual e moral do seu líder, George W. Bush, para empreender essa imensa luta global, em nome do Ocidente.
Convenhamos que, neste último ponto, terá MS alguma razão. Como deixou escrito o nosso excelso Camões : « Um fraco rei faz fraca a forte gente... ». Este membro do clã Bush, de facto, não inspira a desejada confiança, não parecendo ter qualificação para desempenhar cargos de elevada responsabilidade política, muito menos, para estar à cabeça dos destinos da grande potência que são os EUA, assoberbada com a sua não enjeitada tarefa de polícia do Mundo, sempre vigilante e actuante contra tantas e tão diversas perversidades que constantemente o ameaçam.
É, notoriamente, encargo demasiado para tão escasso talento perceptível em Bush, embora não se negue o seu acertado propósito em questões pontuais, principalmente quando interpreta correctamente os sinais da conspiração islâmica fundamentalista anti-ocidental, para usar uma expressão cómoda, ainda que algo imprecisa.
Mário Soares, que se péla por debates, aparentou boa forma física e muito razoável disposição mental. Se nos lembrarmos dos seus quase 82 anos, teremos de nos admirar e forçosamente considerá-lo em excelente forma geral.
É de louvar que ainda manifeste tanto gozo em participar em debates e neles seja capaz de exprimir opiniões contrárias ao senso dominante, mesmo se se coloca do lado aparentemente errado da trincheira, numa época em que muitos só manifestam a sua opinião depois de ouvirem a dos supostos mandantes ou influentes, depois de, cautelosamente, haverem determinado o lugar geométrico das vozes de um qualquer poder em exercício.
Sempre eu apreciarei gente que ouse pensar pela sua própria cabeça e não se iniba de expressar o seu pensamento, independentemente de estar ou não com a razão ou de eu discordar dos seus pontos de vista. Decerto que é preferível não cometer erros de juízo, cometer poucos ou raramente os cometer. Mas quem se pode arrogar ter tido sempre razão, sobretudo quando se levou uma vida de intervenção frequente no combate político, arena mais que insegura, para exibir imaginados modelos de coerência ?
Todavia, no caso presente, MS deixou-se, mais uma vez, cegar pela sua irreprimível vaidade, pelo seu inveterado narcisismo de ribalta, pretendendo que continuamente o vejamos como uma espécie de D. Quixote redivivo, arremetendo contra o, agora, abominável gigante americano.
Vimo-lo ontem, porém, algo surpreendentemente, dando guarida a teses de extrema vulnerabilidade, como a da luta contra a pobreza, como forma de combater o terrorismo islâmico, a da necessidade do diálogo com Bin Laden e seus deputados, a equiparação do fanatismo muçulmano ao suposto fundamentalismo cristão existente nos EUA, em particular, e no Ocidente, em geral, de que Bush seria o mais dementado e tenebroso arauto, apesar da condição de inequívoco laicismo, do acentuado laxismo moral e até a mais do que tolerada licensiosidade das sociedades ocidentais, tudo características que desmentem tão absurda equiparação.
No seu delirante afã anti-americano ou anti-Bush, se lhe aceitarmos essa magna distinção, MS chega a perfilhar, parcialmente, pelo menos, a tese da conspiração, segundo a qual teriam sido os próprios americanos a organizar os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, supõe-se que também os de Madrid, em 2004, e os de Londres, em 2005, para depois poderem justificar melhor a guerra pelo controlo e saque do petróleo no Médio-Oriente, etc., etc.
Custa a crer que um homem tão experimentado, tão mundano, como ele nunca se cansa de no-lo recordar, invocando sistematicamente os seus altos e extensos contactos com figuras cimeiras da Política Internacional, se deixe atrair por argumentos tão frágeis. Cabe observar até onde pode levar a descontrolada obsessão anti-americana.
De caminho, ficámos também a saber que MS sempre considerou Tony Blair um mero bluff, não passando, afinal, de solícito serventuário dos interesses norte-americanos, manifestando antes preferência pelo jovem e guapo Primeiro- Ministros ocialista espanhol, José Luís Zapatero ou mesmo pelo nosso elegante PM, José Sócrates, igualmente socialista, de discurso ligeiro, mas despachado, em contraposição àquele desnaturado britânico que tão nefasta influência exerceu no nosso bem intencionado ex-PM, António Guterres, homem de vocação mais claramente cristã, missionária ou caritativa, que propriamente socialista, para o seu gosto pessoal.
Tudo isto MS foi dizendo ou insinuando, sempre a coberto de uma deferência de tratamento que não encontra paralelo em nenhuma outra figura política portuguesa presente ou passada. Na verdade, bons deuses fadaram MS, porque, praticamente, todos lhe relevam os erros, os deslizes, as trapalhadas, os desconcertos, ao mesmo tempo que lhe enaltecem as mais pequenas virtudes. Assim, vale a pena namorar com a Comunicação Social. Será sempre amor bem correspondido, retribuído até em dobrado.
Foi, no entanto, pena não terem dado mais tempo de intervenção a Helena Matos, porque esta desinibida mulher, na sua breve exposição, demonstrou clarividência na percepção do problema.
Sem receio de expor o seu pensamento, HM chamou a atenção para o que se passa com os muçulmanos de 2ª geração, nados e criados aqui, na nossa mui liberal Europa, com acesso ilimitado à informação, usufruindo do seu Ensino, dos Serviços de Saúde, da Segurança Social e demais bens colectivos do típico conforto europeu, mas que, não obstante, declaram sentir-se, primeiro que tudo, islâmicos, apesar de os seus Bilhetes de Identidade, os seus Passaportes, de todos os seus documentos atestarem a sua legítima condição de Europeus. Excelente integração, esta. Realmente, dela todos nos podemos orgulhar !
Infelizmente, direi melhor, incompreensivelmente, o pensamento de Helena Matos, como o de Pacheco Pereira, no que concerne ao conflito com a mentalidade fundamentalista islâmica, a única do universo muçulmano que se faz ouvir, permanece, entre nós, largamente minoritário, concedendo-se assim amplo espaço à doutrinação do ódio contra o nosso estilo de vida, imperfeito e, em muitos aspectos, altamente criticável, sem dúvida, mas infinitamente preferível aos sonhados paraísos que mentes profundamente alienadas e terrivelmente obscurantistas, de modo persistente, militantemente, nos pretendem impingir, cada vez com maior despudor.
Acaso conseguirão os seus intentos ?
Convém meditar nisto, enquanto é tempo. Já houve tragédias que começaram por menos…
AV_Lisboa, 12 de Setembro de 2006
De um lado, digamos, pró-americano, representado por José Pacheco Pereira, observámos a percepção mais objectiva do fenómeno, que toma o terrorismo islâmico na sua correcta dimensão, entendendo-o como ameaça global ao nosso modo de viver ocidental.
Do outro, atribuído, por assim dizer, a Mário Soares, ali reencontrado na sua versão outra vez juvenil, deparou-se-nos a visão do problema, na óptica anti-americana, anti-globalização, anti-imperialista, um pouco socialista, não muito, claro, apenas q.b., naquele grau compatível com o discreto charme da burguesia, de piedosos sentimentos, mas de práticas sociais inconsequentes, como era uso dizer-se, num antigo dialecto político muito do agrado de velhos confrades e amigos de Soares.
Para o primeiro, JPP, sem querer admitir a existência de um choque de civilizações, ainda assim, denominando-o de cultural, o problema é sério e como tal deve ser encarado, sem cedências despropositadas, que possam ser mal entendidas. Por isso mesmo, estima e apoia o esforço americano no actual conflito, apesar dos erros cometidos quanto ao modus operandi gizado por Bush e seus conselheiros.
Já para Mário Soares, tudo o que presentemente vem dos EUA lhe parece de rejeitar, incluindo a firmeza com que estes pretendem lutar contra o terrorismo. E logo desata um rol de desacertos, de erros estratégicos e tácticos, de actuação, etc., a que acrescenta a total falta de credibilidade intelectual e moral do seu líder, George W. Bush, para empreender essa imensa luta global, em nome do Ocidente.
Convenhamos que, neste último ponto, terá MS alguma razão. Como deixou escrito o nosso excelso Camões : « Um fraco rei faz fraca a forte gente... ». Este membro do clã Bush, de facto, não inspira a desejada confiança, não parecendo ter qualificação para desempenhar cargos de elevada responsabilidade política, muito menos, para estar à cabeça dos destinos da grande potência que são os EUA, assoberbada com a sua não enjeitada tarefa de polícia do Mundo, sempre vigilante e actuante contra tantas e tão diversas perversidades que constantemente o ameaçam.
É, notoriamente, encargo demasiado para tão escasso talento perceptível em Bush, embora não se negue o seu acertado propósito em questões pontuais, principalmente quando interpreta correctamente os sinais da conspiração islâmica fundamentalista anti-ocidental, para usar uma expressão cómoda, ainda que algo imprecisa.
Mário Soares, que se péla por debates, aparentou boa forma física e muito razoável disposição mental. Se nos lembrarmos dos seus quase 82 anos, teremos de nos admirar e forçosamente considerá-lo em excelente forma geral.
É de louvar que ainda manifeste tanto gozo em participar em debates e neles seja capaz de exprimir opiniões contrárias ao senso dominante, mesmo se se coloca do lado aparentemente errado da trincheira, numa época em que muitos só manifestam a sua opinião depois de ouvirem a dos supostos mandantes ou influentes, depois de, cautelosamente, haverem determinado o lugar geométrico das vozes de um qualquer poder em exercício.
Sempre eu apreciarei gente que ouse pensar pela sua própria cabeça e não se iniba de expressar o seu pensamento, independentemente de estar ou não com a razão ou de eu discordar dos seus pontos de vista. Decerto que é preferível não cometer erros de juízo, cometer poucos ou raramente os cometer. Mas quem se pode arrogar ter tido sempre razão, sobretudo quando se levou uma vida de intervenção frequente no combate político, arena mais que insegura, para exibir imaginados modelos de coerência ?
Todavia, no caso presente, MS deixou-se, mais uma vez, cegar pela sua irreprimível vaidade, pelo seu inveterado narcisismo de ribalta, pretendendo que continuamente o vejamos como uma espécie de D. Quixote redivivo, arremetendo contra o, agora, abominável gigante americano.
Vimo-lo ontem, porém, algo surpreendentemente, dando guarida a teses de extrema vulnerabilidade, como a da luta contra a pobreza, como forma de combater o terrorismo islâmico, a da necessidade do diálogo com Bin Laden e seus deputados, a equiparação do fanatismo muçulmano ao suposto fundamentalismo cristão existente nos EUA, em particular, e no Ocidente, em geral, de que Bush seria o mais dementado e tenebroso arauto, apesar da condição de inequívoco laicismo, do acentuado laxismo moral e até a mais do que tolerada licensiosidade das sociedades ocidentais, tudo características que desmentem tão absurda equiparação.
No seu delirante afã anti-americano ou anti-Bush, se lhe aceitarmos essa magna distinção, MS chega a perfilhar, parcialmente, pelo menos, a tese da conspiração, segundo a qual teriam sido os próprios americanos a organizar os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001, em Nova Iorque, supõe-se que também os de Madrid, em 2004, e os de Londres, em 2005, para depois poderem justificar melhor a guerra pelo controlo e saque do petróleo no Médio-Oriente, etc., etc.
Custa a crer que um homem tão experimentado, tão mundano, como ele nunca se cansa de no-lo recordar, invocando sistematicamente os seus altos e extensos contactos com figuras cimeiras da Política Internacional, se deixe atrair por argumentos tão frágeis. Cabe observar até onde pode levar a descontrolada obsessão anti-americana.
De caminho, ficámos também a saber que MS sempre considerou Tony Blair um mero bluff, não passando, afinal, de solícito serventuário dos interesses norte-americanos, manifestando antes preferência pelo jovem e guapo Primeiro- Ministros ocialista espanhol, José Luís Zapatero ou mesmo pelo nosso elegante PM, José Sócrates, igualmente socialista, de discurso ligeiro, mas despachado, em contraposição àquele desnaturado britânico que tão nefasta influência exerceu no nosso bem intencionado ex-PM, António Guterres, homem de vocação mais claramente cristã, missionária ou caritativa, que propriamente socialista, para o seu gosto pessoal.
Tudo isto MS foi dizendo ou insinuando, sempre a coberto de uma deferência de tratamento que não encontra paralelo em nenhuma outra figura política portuguesa presente ou passada. Na verdade, bons deuses fadaram MS, porque, praticamente, todos lhe relevam os erros, os deslizes, as trapalhadas, os desconcertos, ao mesmo tempo que lhe enaltecem as mais pequenas virtudes. Assim, vale a pena namorar com a Comunicação Social. Será sempre amor bem correspondido, retribuído até em dobrado.
Foi, no entanto, pena não terem dado mais tempo de intervenção a Helena Matos, porque esta desinibida mulher, na sua breve exposição, demonstrou clarividência na percepção do problema.
Sem receio de expor o seu pensamento, HM chamou a atenção para o que se passa com os muçulmanos de 2ª geração, nados e criados aqui, na nossa mui liberal Europa, com acesso ilimitado à informação, usufruindo do seu Ensino, dos Serviços de Saúde, da Segurança Social e demais bens colectivos do típico conforto europeu, mas que, não obstante, declaram sentir-se, primeiro que tudo, islâmicos, apesar de os seus Bilhetes de Identidade, os seus Passaportes, de todos os seus documentos atestarem a sua legítima condição de Europeus. Excelente integração, esta. Realmente, dela todos nos podemos orgulhar !
Infelizmente, direi melhor, incompreensivelmente, o pensamento de Helena Matos, como o de Pacheco Pereira, no que concerne ao conflito com a mentalidade fundamentalista islâmica, a única do universo muçulmano que se faz ouvir, permanece, entre nós, largamente minoritário, concedendo-se assim amplo espaço à doutrinação do ódio contra o nosso estilo de vida, imperfeito e, em muitos aspectos, altamente criticável, sem dúvida, mas infinitamente preferível aos sonhados paraísos que mentes profundamente alienadas e terrivelmente obscurantistas, de modo persistente, militantemente, nos pretendem impingir, cada vez com maior despudor.
Acaso conseguirão os seus intentos ?
Convém meditar nisto, enquanto é tempo. Já houve tragédias que começaram por menos…
AV_Lisboa, 12 de Setembro de 2006
6.9.06
Esclarecimento
Em nota de esclarecimento ao artigo que ontem aqui escrevi, acrescento :
Admito não ter sido suficientemente claro na exposição de algumas ideias aqui afloradas. Para quem possa ter ficado em dúvida, asseguro que não advogo ditaduras e desconfio mesmo daquelas que se inculcam sob a capa de um suposto iluminismo redentor. Mas tão-pouco louvo ou recomendo democracias degradadas, corruptas e subservientes perante as plutocracias que vão surgindo.
Entendo, no meu modo de pensar, que o nosso estimado Portugal deve ser dirigido por gente que tenha ideias políticas, ideais políticos e éticos, que respeitem a História e a Cultura da Comunidade a que pertencemos, que sinceramente deseje servir o País, com espírito de missão ou de consagração à causa pública.
Quem não sinta este apelo, deveria abster-se de actividade política e dedicar-se antes aos Negócios, às Empresas ou aos mais variados Serviços de natureza social ou económica.
Quem o fizer, com honestidade, competência, no respeito da Lei, gerando riqueza, observando as normas de sã convivência com os demais cidadãos, terá também utilmente contribuído para o progresso do País : a Comunidade em que vive e de que obtém a sua própria prosperidade, como se lhe deve relembrar, quando disso se esqueça.
Assim enunciado, parece simples. No fundo, sabemos que é bem mais complicado, mas convém partir de princípios claros, lógicos, perceptíveis e daí orientar a acção.
De contrário, só por mero acaso se produzirá algo de acertado. Como quase todos comprovam, o País caiu numa situação perigosa, de profunda descrença: nos valores e nas Instituições.
Para recobrar ânimo e confiança em si próprio precisa de ver acções, mais do que ouvir palavras ou adivinhar intenções.
Quem se propõe redimi-lo da presente depressão tem de reunir competência técnica e credibilidade moral. Nos actuais Partidos, não se vê, no entanto, como tal seja possível.
Ficaremos nós eternamente expectantes da Providência ou faremos alguma coisa, por nossa iniciativa, para que isto mude ?
Sempre a mesma questão ! A nossa actual «Delenda Cartago» !
AV_Lisboa_06-09-2006
Admito não ter sido suficientemente claro na exposição de algumas ideias aqui afloradas. Para quem possa ter ficado em dúvida, asseguro que não advogo ditaduras e desconfio mesmo daquelas que se inculcam sob a capa de um suposto iluminismo redentor. Mas tão-pouco louvo ou recomendo democracias degradadas, corruptas e subservientes perante as plutocracias que vão surgindo.
Entendo, no meu modo de pensar, que o nosso estimado Portugal deve ser dirigido por gente que tenha ideias políticas, ideais políticos e éticos, que respeitem a História e a Cultura da Comunidade a que pertencemos, que sinceramente deseje servir o País, com espírito de missão ou de consagração à causa pública.
Quem não sinta este apelo, deveria abster-se de actividade política e dedicar-se antes aos Negócios, às Empresas ou aos mais variados Serviços de natureza social ou económica.
Quem o fizer, com honestidade, competência, no respeito da Lei, gerando riqueza, observando as normas de sã convivência com os demais cidadãos, terá também utilmente contribuído para o progresso do País : a Comunidade em que vive e de que obtém a sua própria prosperidade, como se lhe deve relembrar, quando disso se esqueça.
Assim enunciado, parece simples. No fundo, sabemos que é bem mais complicado, mas convém partir de princípios claros, lógicos, perceptíveis e daí orientar a acção.
De contrário, só por mero acaso se produzirá algo de acertado. Como quase todos comprovam, o País caiu numa situação perigosa, de profunda descrença: nos valores e nas Instituições.
Para recobrar ânimo e confiança em si próprio precisa de ver acções, mais do que ouvir palavras ou adivinhar intenções.
Quem se propõe redimi-lo da presente depressão tem de reunir competência técnica e credibilidade moral. Nos actuais Partidos, não se vê, no entanto, como tal seja possível.
Ficaremos nós eternamente expectantes da Providência ou faremos alguma coisa, por nossa iniciativa, para que isto mude ?
Sempre a mesma questão ! A nossa actual «Delenda Cartago» !
AV_Lisboa_06-09-2006
5.9.06
A Informação Agradecida
Tinha, no artigo anterior, solicitado, da imensa e largamente generosa blogosfera, a confirmação da existência da insólita tese que Francisco Franco alegadamente apresentara à Academia Militar de Toledo, visando um plano de conquista expedita de Portugal.
Como esperava, respondeu-me um amigo, companheiro destas lides internéticas, geralmente muito bem informado em matérias histórico-políticas.
Já fui reler a passagem da portentosa biografia de Salazar de Franco Nogueira onde este facto vem também referido. Suponho que não foi aqui que primeiro obtive conhecimento deste importante episódio das historicamente atribuladas relações entre os dois estados ibéricos. Continuo convencido que ouvi ou li tal facto histórico da boca ou da pena de César de Oliveira, historiador contemporâneo já falecido.
Em todo o caso, conto ainda vir a poder averiguar com maior detalhe este assunto.
Entretanto, lá encontrei no volume III – As Grandes Crises, 1936-1945 – da obra magna de Franco Nogueira, em nota de pé de página, esta notícia confirmada.
Na minha edição, a 2ª, de Outubro de 1983, da Livraria Civilização Editora, do Porto, ela figura na página 157.
Surge ela num contexto de troca de opiniões entre representantes de Portugal e da Inglaterra, a propósito de uma «atitude de reserva histórica» que Portugal teria em relação a Espanha e não de Salazar para com Franco.
Vale apena transcrevê-la na íntegra : «Convirá neste ponto esclarecer que a atitude do General Franco para com Salazar e para com Portugal foi sempre correcta e no plano pessoal comportou-se sempre com especial deferência. Contudo, quando Cadete em Toledo, Franco escolhera como exercício do seu final de curso o tema : Como se ocupa Portugal em 28 dias. Para a época, e com os meios convencionais dos princípios do século (20), foi havido por notável pelo Estado-Maior Espanhol. Salazar sabia-o.»
Pode ter-se tratado de um exercício académico, mas não deixa de ser inquietante, por representar uma tradição histórica de ameaça de anexação ou de absorção, como por diversas vezes no passado tal se configurou.
Em momentos decisivos da sua já extensa história, sempre os Portugueses souberam rechaçá-la. Parece ser esta presente época aquela em que, de uma forma algo surpreendente, as gerações mais jovens, sobretudo, dão mostras de indiferença para com os destinos da Nação, havendo já muitos, demasiados, Portugueses para quem ela os deixaria alheios, despreocupados ou mesmo satisfeitos, com semelhante eventualidade.
Dir-se-ia que a relativa prosperidade do presente, no contexto desagregador da União Europeia para com o Estado Português, produziu nas consciências dos nossos compatriotas um efeito anestesiante, agravado pela agressividade comercial do lado Espanhol em que é visível um nítido sentido aglutinador ou integrador, tirando proveito da abertura de mercados promovida pelos fortes ventos da Liberalização, oportunamente desatados pela controversa Globalização.
No entanto, e pesem as circunstâncias, deveríamos lembrar aos nossos amigos espanhóis que é bom não abusarem do presente excesso de laxismo luso. Os fracos, às vezes, são capazes de gerar explosões incontroláveis que tudo levam na sua frente, quando os impele a força do desagravo perante o vexame sofrido.
Por arrastamento, dei comigo a reler o prólogo do VI e último volume da referida obra. Nele Franco Nogueira se compraz por haver chegado ao fim da árdua empresa que empreendera, em momentos para si incómodos, aproveitando para reputar como acto de inteligência o reconhecimento da genialidade política de Salazar.
Muitos logo se sentirão irados com tal afirmação. Sou dos que não precisam de se filiar em qualquer salazarismo serôdio, para reconhecer a extraordinária figura de Estadista de Oliveira Salazar, ainda que tenha exercido funções políticas sempre em regime de Ditadura.
Basta que evoquemos alguns períodos da Monarquia ou da 1ª República, para sentirmos que, por vezes, e por limitado período, uma Ditadura esclarecida pode ser preferível a um regime democrático podre, amolecido ou desvirtuado, que nunca estará em condições de promover o bem-estar, a justiça e a prosperidade geral do Povo.
Ditadura forte e feia foi a do Marquês de Pombal, há cerca de 250 anos e ainda hoje ela tem adeptos declarados, ufanos da estátua do déspota iluminado, hirta, imponente, ali na Rotunda, no alto da Avenida, hoje da Liberdade, vigiando, altaneira, a vasta urbe subjugada em seu redor.
As apreciações dos Homens são de facto mutáveis, muito mais as de natureza política. E o que uma época incensou, outra pode condenar. Até no plano militar isto se verifica. Haja em vista o que tem acontecido com certos vultos históricos como Napoleão, Pétain, Hitler, Estaline, de Gaulle, Churchill, etc.,para só citar uns poucos de nomes que já conheceram, por parte das populações, distintas avaliações, em diferentes períodos históricos vividos, consoante as vogas do momento.
É bom que tal seja recordado àqueles que julgam que fazem juízos definitivos sobre figuras históricas, baseados na euforia dos períodos em que, muitas vezes, o acaso da Fortuna e não o Mérito os colocou nos centros da ruidosa ribalta política.
Este algo encantatório, rutilante ambiente, de tal modo os deixa embevecidos, que, invariavelmente, lhes tolda o espírito, já de si bastante depauperado.
AV_Lisboa, 05 de Setembro de 2006
Como esperava, respondeu-me um amigo, companheiro destas lides internéticas, geralmente muito bem informado em matérias histórico-políticas.
Já fui reler a passagem da portentosa biografia de Salazar de Franco Nogueira onde este facto vem também referido. Suponho que não foi aqui que primeiro obtive conhecimento deste importante episódio das historicamente atribuladas relações entre os dois estados ibéricos. Continuo convencido que ouvi ou li tal facto histórico da boca ou da pena de César de Oliveira, historiador contemporâneo já falecido.
Em todo o caso, conto ainda vir a poder averiguar com maior detalhe este assunto.
Entretanto, lá encontrei no volume III – As Grandes Crises, 1936-1945 – da obra magna de Franco Nogueira, em nota de pé de página, esta notícia confirmada.
Na minha edição, a 2ª, de Outubro de 1983, da Livraria Civilização Editora, do Porto, ela figura na página 157.
Surge ela num contexto de troca de opiniões entre representantes de Portugal e da Inglaterra, a propósito de uma «atitude de reserva histórica» que Portugal teria em relação a Espanha e não de Salazar para com Franco.
Vale apena transcrevê-la na íntegra : «Convirá neste ponto esclarecer que a atitude do General Franco para com Salazar e para com Portugal foi sempre correcta e no plano pessoal comportou-se sempre com especial deferência. Contudo, quando Cadete em Toledo, Franco escolhera como exercício do seu final de curso o tema : Como se ocupa Portugal em 28 dias. Para a época, e com os meios convencionais dos princípios do século (20), foi havido por notável pelo Estado-Maior Espanhol. Salazar sabia-o.»
Pode ter-se tratado de um exercício académico, mas não deixa de ser inquietante, por representar uma tradição histórica de ameaça de anexação ou de absorção, como por diversas vezes no passado tal se configurou.
Em momentos decisivos da sua já extensa história, sempre os Portugueses souberam rechaçá-la. Parece ser esta presente época aquela em que, de uma forma algo surpreendente, as gerações mais jovens, sobretudo, dão mostras de indiferença para com os destinos da Nação, havendo já muitos, demasiados, Portugueses para quem ela os deixaria alheios, despreocupados ou mesmo satisfeitos, com semelhante eventualidade.
Dir-se-ia que a relativa prosperidade do presente, no contexto desagregador da União Europeia para com o Estado Português, produziu nas consciências dos nossos compatriotas um efeito anestesiante, agravado pela agressividade comercial do lado Espanhol em que é visível um nítido sentido aglutinador ou integrador, tirando proveito da abertura de mercados promovida pelos fortes ventos da Liberalização, oportunamente desatados pela controversa Globalização.
No entanto, e pesem as circunstâncias, deveríamos lembrar aos nossos amigos espanhóis que é bom não abusarem do presente excesso de laxismo luso. Os fracos, às vezes, são capazes de gerar explosões incontroláveis que tudo levam na sua frente, quando os impele a força do desagravo perante o vexame sofrido.
Por arrastamento, dei comigo a reler o prólogo do VI e último volume da referida obra. Nele Franco Nogueira se compraz por haver chegado ao fim da árdua empresa que empreendera, em momentos para si incómodos, aproveitando para reputar como acto de inteligência o reconhecimento da genialidade política de Salazar.
Muitos logo se sentirão irados com tal afirmação. Sou dos que não precisam de se filiar em qualquer salazarismo serôdio, para reconhecer a extraordinária figura de Estadista de Oliveira Salazar, ainda que tenha exercido funções políticas sempre em regime de Ditadura.
Basta que evoquemos alguns períodos da Monarquia ou da 1ª República, para sentirmos que, por vezes, e por limitado período, uma Ditadura esclarecida pode ser preferível a um regime democrático podre, amolecido ou desvirtuado, que nunca estará em condições de promover o bem-estar, a justiça e a prosperidade geral do Povo.
Ditadura forte e feia foi a do Marquês de Pombal, há cerca de 250 anos e ainda hoje ela tem adeptos declarados, ufanos da estátua do déspota iluminado, hirta, imponente, ali na Rotunda, no alto da Avenida, hoje da Liberdade, vigiando, altaneira, a vasta urbe subjugada em seu redor.
As apreciações dos Homens são de facto mutáveis, muito mais as de natureza política. E o que uma época incensou, outra pode condenar. Até no plano militar isto se verifica. Haja em vista o que tem acontecido com certos vultos históricos como Napoleão, Pétain, Hitler, Estaline, de Gaulle, Churchill, etc.,para só citar uns poucos de nomes que já conheceram, por parte das populações, distintas avaliações, em diferentes períodos históricos vividos, consoante as vogas do momento.
É bom que tal seja recordado àqueles que julgam que fazem juízos definitivos sobre figuras históricas, baseados na euforia dos períodos em que, muitas vezes, o acaso da Fortuna e não o Mérito os colocou nos centros da ruidosa ribalta política.
Este algo encantatório, rutilante ambiente, de tal modo os deixa embevecidos, que, invariavelmente, lhes tolda o espírito, já de si bastante depauperado.
AV_Lisboa, 05 de Setembro de 2006